Você já se sentiu sufocada (o/e) em um relacionamento? Ou então já esteve em uma relação que tinha medo de ser abandonada (o/e) pela outra pessoa? Se você se identificou com essa dualidade, calma, isso é mais comum do que pode parecer — e não tem nada de errado ou anormal com isso.

Nesse sentido, a psicoterapeuta Esther Perel, que é especialista em relacionamentos, explica como isso funciona. Olha só o que ela diz:

“Todo relacionamento envolve liberdade e compromisso, união e afastamento, conexão e independência. Em todo relacionamento, geralmente há uma pessoa que está mais inclinada à conexão, e outra pessoa mais inclinada ao afastamento. Uma pessoa que tem mais medo de perder a outra, e a outra pessoa com medo de perder a si mesma. Uma pessoa que está mais em contato com o medo do abandono, e a outra pessoa mais em contato com o medo de ser sufocada. Todos temos ambos, mas organizamos o nosso relacionamento em qual de nós vai assumir o papel nessa dualidade. Nós precisamos de conexão e distância, e precisamos das coisas que estão juntas e das que estão separadas.”

No fim das contas, ela explica, é tudo uma questão de balanço entre amor e desejo, e entre as nossas necessidades de certeza e incerteza:

Mas então, como a gente pode fazer pra conciliar essas forças?

Esse é um desafio que mora justamente na comunicação. É quando a gente se faz perguntas como, “como posso falar pra minha parceira que estou me sentindo sufocada nessa relação sem a gente brigar ou acabar terminando tudo?”, ou “como posso falar pro meu companheiro que tenho medo de que ele me abandone sem parecer dependente ou desesperado?” por exemplo.

De acordo com a CNV, existem práticas e hábitos que nós podemos criar e nutrir para falar desses “elefantes brancos”. Aqui, a chave está em criar espaços seguros de troca pra falar sobre assuntos sensíveis e delicados, além de uma boa disposição para abraçar a vulnerabilidade do outro e se permitir se mostrar vulnerável para ele também.

Pra te ajudar a trabalhar essas questões com seu par romântico, a mediadora de conflitos e especialista em CNV Carolina Nalon separou algumas dicas de como fazer essas mudanças no relacionamento acontecer, e também explica mais sobre essa questão de amor x desejo neste vídeo aqui:

Mass, se você não quiser assistir ao vídeo todo agora, nós resumimos as dicas que ela deu, que são:

 

1º Ajuste as suas lentes:

Antes de começar a pensar sobre o que falar com a outra pessoa, tente perceber como você enxerga a relação que vocês têm. Você acha que estão num momento mais “seguro” e “confortável”? Ou então num momento mais “apaixonado” e “romântico”?

Bom, aqui vai uma notícia: tudo isso é impermanente, e, no fim das contas, uma ilusão. Só porque vocês “atingiram” uma certa confiança e segurança no relacionamento, isso não significa que vai ser assim pra sempre, ou que de fato, está seguro de verdade. O mesmo vale para o “romântico/apaixonado”: tá tudo bem se isso se transformar.

Aqui é possível a gente compreender que, no fundo, no fundo, o amor é instável.

 

2º Abandone os rótulos

Quem nunca ouviu algo como: “ihh, meu marido é preguiçoso, até parece que ele ia aceitar ir pra academia comigo!” ou “ah não, minha namorada não curte viajar, ela é mais caseira, mesmo”. Todas essas impressões que a gente tem do outro e acaba colocando como julgamentos são rótulos.

Isso acaba cristalizando a nossa relação e o jeito que a gente vê o outro. Percebe como isso mata o mistério sobre quem o outro é? Nós já sabemos tudo sobre ele mesmo, que graça tem?

Mas pensa: você já mudou alguma vez uma opinião forte que você tinha? Ou já mudou drasticamente um hábito seu, ou jeito de se vestir? Pois é, muito provavelmente seu par romântico também. Percebe como toda essa “certeza” sobre ele é uma ilusão?

Aqui, é importante entender que nós passamos por transformações, e elas são essenciais para que a novidade chegue, e que a gente mude junto com elas. Isso alimenta a nossa necessidade de incerteza, de mistério e pode até ajudar a reacender o nosso desejo e sedução.

Se trata de decidir ter disposição para acompanhar um ao outro nas mudanças, e não de se controlar.

 

3º Mude o paradigma do controle para o paradigma da confiança

A CNV, como um todo, é justamente a mudança do paradigma de controle para a confiança nas nossas relações, ou seja, ter a coragem de, aos poucos, confiarem mais um no outro, em vez de se controlarem ou se restringirem. Aqui, o desafio maior é que vocês vão precisar encarar as suas próprias inseguranças e se mostrarem vulneráveis.

Neste passo, vocês precisam analisar juntos como a intimidade de vocês foi construída e entender que vocês vão precisar desconstrui-la aos poucos, para construir algo mais saudável e criar um espaço seguro de conversa.

Se você quer se dispor a fazer essa mudança com quem você ama, você pode se juntar com essa pessoa, e em conjunto, se perguntarem:

  1. Como vocês podem criar mais espaço pra uma individualidade saudável?
  2. Quando vocês se sentem mais livres na relação?
  3. Em que aspecto a relação te torna menos livre?
  4. Em que aspectos te torna mais livre?
  5. Até que ponto vocês conseguem dar liberdade um pro outro?
  6. Até que ponto vocês conseguem se entregar?

 

CUIDADO: pra fazer essas perguntas, é importante que a sua intenção principal seja ouvir com atenção a outra pessoa, sem julgamentos. Afinal de contas, esse pode ser um momento delicado para ela se abrir com você e falar de coisas que ela pode estar tomando cuidado pra não te machucar.

Se você tem dúvida sobre como oferecer uma escuta de qualidade e sobre como falar de você com autenticidade, os nossos vídeos sobre como demonstrar empatia podem ajudar. Tá tudo aqui: